terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Exclusão Social: Um problema brasileiro de 500 anos


 - RESENHA CRÍTICA


Exclusão Social: Um problema brasileiro de 500 anos. In: SAWAIA, B. B. As artimanhas da exclusão: Análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 1999.


O texto traz a trajetória do termo “exclusão ao longo da história e sua transformação, os vários sentidos que ele vem tomando, desde seu surgimento nos anos 60/70, relacionado à pobreza até à contemporaneidade, quando se fala de “nova pobreza”, novos processos sociais, influência de debates europeus e americano.
No Brasil dos anos 60/70 exclusão era tratada como marginalidade social, vista como pobreza consequência do êxodo rural. Os problemas de moradia, como favelas, a mendicância, delinquência, eram vistos como resultados desse processo migratório.
Falsas “soluções” foram propostas no período chamado “milagre econômico”, pelos militares e setores conservadores, os pobres eram vistos como populações marginais ou atrasados, “classes perigosas”, que poderiam integrar-se ao novo mundo urbano, muitas vezes, foram acoplados à do subdesenvolvimento ou industrialização dependente.
Entre as prioridades dos trabalhadores pobres dos anos 70 estavam: moradia, legalização de documentos, emprego e alimentação. Surgem os primeiros estudos sobre favelas em são Paulo, marginalidade como forma de desenvolvimento ou subdesenvolvimento, questões espaciais.
Anos 80, “tempo de “democracia”, lutas sociais. Crise no BNH, surgem os loteamentos clandestinos, cortiços e a exclusão política da vida sindical e social dos trabalhadores. Não acesso aos bens e serviços indispensáveis à coletividade. Em lugar de cidadãos surge o consumidor insatisfeito. Sociedade de consumo alienada. Cidadania mutilada. Capitalismo predatório que privilegia interesses privados acaba por expulsar moradores de favelas, encortiçados, loteamentos irregulares, criando uma população nômade de sem tetos.
Nos anos 90 o conceito de exclusão ganha novas dimensões. Dinâmico, passa a ser compreendido, não só como conceito de oposição à inclusão social, vai além,  incidindo sobre  exclusão como no direito ao trabalho, educação, saúde, habitação, desconstruindo a simplificação da relação entre exclusão e desigualdade social.
 Sob influência do pensamento francês a exclusão é tratada como pobreza integrada, marginal e privada. Vista como ameaça à coesão social. É reeditada num processo multidimensional.
Robert Castel faz uma análise histórica e sócio-antropológica sobre a questão social centrada na crise da sociedade salarial. O foco do seu trabalho é a relação contratual e os dela excluídos – vagabundos, desempregados, pobres – a quem Castel chamou de “desfiliados” (referência a contrato de trabalho, filiação - direitos trabalhistas, sindicais). Aborda também processos como “desestabilização” dos estáveis, tornando-os “inúteis sociais”, perdendo a identidade de trabalhadores.
O fracasso na obtenção da igualdade de acesso a serviços sociais (crise do Estado Providência) acarretaram consequências como: isenção do estado com relação a responsabilidade de inclusão dos indivíduos, a exclusão seria “culpa” do próprio excluído que passa a ser visto como “sem utilidade econômica”.
Exclusão social passa a ser um rótulo que parece empurrar o indivíduo para fora de suas relações sociais e deve ser entendida como expressão das contradições do sistema capitalista.
A pobreza continua intimamente relacionada à exclusão, mas mudou a forma de  expressão. Além de ser privação (de emprego, bens de consumo, emprego, etc.), há uma dimensão moral que não oferece a possibilidade de ascensão social.
As políticas neo-liberais, econômicas atuais, provocam, não só exclusão mas, formas de inclusão precárias e marginais, de maneira conveniente e barata à reprodução do capital, atenuando o caráter perigoso das classes dominadas.
Além dos integrados (ricos e pobres) inseridos, cada um a seu modo, com direitos reconhecidos, há outro grupo crescendo, através do trabalho precário, no setor de serviços mal pagos – os cidadãos de segunda classe.
A problemática das grandes cidades está na dualização social. Procura por indivíduos altamente qualificados para serviços especializados. Enquanto os não qualificados tenderiam a ser sobrantes, trabalhadores que no passado foram qualificados, são agora residuais.
Atualmente utiliza-se o termo “inimpregáveis” para referir-se aos que não terão chance no mercado de trabalho, diante da nova ordem globalizada em que se encontra o Brasil, estando estes condenados à marginalização.
Tradicionalmente o termo “exclusão” é aplicado a grupos como pobres e favelados. Ao longo da história seu uso foi amplificado para identificar minorias como negros, homossexuais, desempregados, catadores de lixo, etc.
A nova exclusão, com uma dupla face – de um lado, a não inserção no mundo do trabalho – torna os indivíduos desnecessários, estigmatizados como perigosos e marcados por viverem em condições subumanas, portanto passíveis de serem eliminados já que fazem parte de uma população supérflua. Ainda, por outro lado, são funcionais ao sistema, mão de obra barata, que prestam serviços a custos muito baixos, gerando mais recursos na produção de bens de consumo.
Segundo José de Souza Martins (1997), falando da nova exclusão, (...)” ser aquele que não é reconhecido como sujeito, que é estigmatizado, considerado nefasto ou perigoso à sociedade (...) uma categoria social ou grupo não pode ser reconhecida como sujeito, se não se reconhece a si mesmo como o sujeito e não atua como sujeito”. (Martins, 1997:16-17, apud, Véras, 1999, p. 48) A autora faz um apanhado de diversos estudos a respeito da exclusão social.
O termo “exclusão” social sempre esteve associado à pobreza. À falta de moradia, mendicância.
Nos anos 80 as questões políticas ganham destaque em relação ao combate em relação à situações de exclusão. Ênfase em movimentos sociais,  discussões sobre a segregação urbana, falência das políticas sociais, cidadania mutilada, ganha relevo a polêmica sobre os contrastes da população (diferenças sociais).
Nos anos 90 o conceito de exclusão ganha dinâmica e multidimensionalidade. Aumenta a dificuldade de inserção social, a impossibilidade de ascensão social. Há uma desconstrução do conceito de exclusão, desvinculando-o exclusivamente de pobreza, associando a outros processos excludentes. A sociedade agora está mais fragmentada. Não se fala mais em exclusão apenas, mas em grupo de excluídos.
Podemos  categorizar os grupos (minoritários) em:
Minorias étnicas (indígenas, negros), minorias religiosas.  Mulheres, crianças, idosos, homossexuais e bissexuais,  obesos, deficientes  físicos, pessoas calvas, pessoas mulatas ou pardas, portadores de deformidades físicas, pessoas mutiladas, deficientes físicos, sensoriais e mentais, doentes crônicos. Desempregados e subempregados, pessoas pobres em geral. Habitantes de periferia dos grandes centros urbanos. Os sem escola, as vítimas da repetência, da desistência escolar. (será que esqueci de alguém?)
 Até os bem sucedidos nas escolas  e que se destacam, são excluídos justamente por serem bem sucedidos e despertarem sentimentos negativos como a inveja. O “legal”,  o bacana, é não estudar, não saber, levar a vida numa boa, aí o indivíduo está dentro.
O movimento atual  da sociedade é de inclusão, uma tentativa. Como fala o texto: processo de inclusão precária. Tem-se apresentado alguns projetos de inclusão social por parte das políticas públicas e outras privadas, mas ainda muito precárias. Notam-se, nitidamente, fins eleitoreiros nos tais projetos. Criancinhas aprendendo a digitar (inclusão digital) quando nem português ainda sabem. Para postar na internet suas fotos e grandes bobagens escritas com erros gramaticais enormes.
Não seria mais interessante montar, ao invés de centros de ensino de computação gratuitos, centros de acompanhamento escolar, ou reforço escolar? Ensinar ao menos a  essas crianças gramática e matemática? Será que ainda vivemos nos anos 70, quando não era interessante o povo saber ler e escrever e a ignorância era uma benção?
Hoje, dia 24, sexta-feira chegou meu livro as Artimanhas da Exclusão e lendo-o, encontrei a seguinte citação:
          
 Bader Sawaia na Introdução do livro diz: “Em síntese, a exclusão é processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas. É processo sutil e dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ele é produto do funcionamento do sistema.” (Sawaia, 2011. P.9)



             Devo esclarecer que me vi obrigada a voltar aqui e acrescentar a citação acima e mais algumas anotações.
             Havia dado por encerrado o presente trabalho no final de semana do feriado, mais precisamente terça dia 21/02,  quando me deparei com a citação acima e não resisti a incluí-la no texto.     
            Aproveitando a experiência do nosso primeiro dia de estágio na escola, não posso deixar de tecer alguns comentários a respeito.
              Partindo do pressuposto que o processo de exclusão é um movimento dialético constitutivo da inclusão, que não é uma falha e sim um produto do sistema e que ao longo do texto várias vezes foi colocado que não é “culpa” do excluído, quero colocar aqui algumas situações vividas na escola, gostaria de fazer um paralelo com o tema.
            As informações que recebemos na escola e o que vimos foi:

  • Grupos de alunos e professores apartados em processo de resistência
  • Professores acreditam que alunos não querem aprender
  • Alunos acreditam que professores não querem ensinar e se sentem prejudicadosExclusão por parte dos professores
  • Alunos ressentidos e revoltados com a situação
  • Divergência de opiniões
  • Informações desencontradas
Entrei contato com o outro grupo de estágio (Colégio II), que relatou uma experiência diferente, alunos e professores  interessados no sucesso do processo educativo, onde o grupo teve boa receptividade por parte da escola, ao contrário de nós, mostraram interesse, motivaram-se pelo trabalho do estágio.
Bem, após essas considerações, eu só posso dizer que realmente a exclusão é um processo multifacetado, que não há como generalizar, o que ocorre em determinados lugares não ocorre em outros. A opinião que eu tinha de aluno de escola pública mudou drasticamente. Eu realmente acreditava que a “culpa” era deles porque isso é o que nos foi passado no primeiro contato com a escola – “São alunos sem interesse nenhum, não querem saber de nada. Não tem um projeto de vida, não sabem o querem do futuro”.(palavras do coordenador)
 Na verdade são pessoas sem oportunidades, o que eu vi ali são meninos e meninas muito inteligentes e com muita vontade de “fazer”, o que falta são as tais  “oportunidades”. Que sabem exatamente o que está acontecendo a sua volta, mas não sabem como mudar, uma situação em que eles são visivelmente prejudicados pelo desânimo e falta de vontade desses professores.
Tomei o exemplo da escola porque, além de me deixar bastante impressionada é uma boa amostra. Assim como acontece ali, naquela escola, com certeza acontece em outras instituições, bem como o exemplo do outro grupo também serve como referência.
Com relação a inclusão digital, se essa for uma forma de espalhar conhecimento, pois então, que se façam as salas de ensino de computação. Mas insisto ainda que o grande problema está na educação de base. No ensino fundamental, onde crianças aprendem a ler e escrever, aprendem português e matemática de forma deficitária. O ensino fundamental deixa muito a desejar, basta abrir os fóruns de discussão na internet e ler as opiniões deixadas por adultos que tiverem em suas bases de ensino essa forma de aprendizagem a qual me refiro. Textos desconexos, com português muito mal escrito, erros crassos gramaticais. Herança de um ensino fundamental que não foi tão fundamental assim. O ensino está banalizado. Se todos, mas todos mesmo, tivessem  acesso a educação decente, de qualidade, as disparidades sociais não seriam tão grandes, haveria concorrência em pé de igualdade por oportunidades, não haveria necessidade de sistema de cotas para ingresso em universidades, concursos públicos, etc., e talvez nem se discutisse questões como “exclusão”.
          
                  

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