quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

OTTO KERNBERG


Otto Kernberg


Nasceu em Viena, em 1928. Iniciou sua formação acadêmica no Chile, onde se graduou em medicina e, posteriormente, em psicanálise. Tendo começado sua formação analítica em um país tão influenciado pelas idéias kleinianas, como era o Chile nos anos 50, isso deixou uma profunda marca em sua posição teórica. Ao se mudar para os Estados Unidos, país onde reside atualmente, levou consigo o interesse pelas teorias das relações objetais, tornando-se, deste modo, um de seus difusores.

  
Otto Kernberg (1967/1975) procurou caracterizar os Pacientes Borderlines de uma Perspectiva psicanalítica, cunhou a expressão Organização de Personalidades Borderlines; cujos Critérios, ficaram como a seguir:

- Manifestações Inespecíficas de Fragilidade do Ego: 
Falta de tolerância à ansiedade;
Falta de controle dos impulsos;
Falta de canais sublimatórios desenvolvidos.
- Desvio em Direção ao Processo de Pensamento Primário: Tendem a Regredir a um Pensamento Semelhante ao Psicótico, na ausência de uma Estrutura, ou sobre a Pressão de Fortes Afetos.  

- Operações Defensivas Específicas:

a) Dissociação, expressão alternada de condutas e crenças contraditórias; compartimentalização de todas as pessoas do ambiente do paciente, em grupos de “totalmente boas” ou “totalmente más”; visões e imagens contraditórias de si mesmo (representações do Self);

b) Idealização Primitiva;

c) Formas Arcaicas de Projeção, principalmente a Identificação Projetiva: as Representações do Self, ou de suas Representações Objetais, são Dissociadas e Projetadas em outros, numa Tentativa de Controle;

d) Negação;

e) Onipotência e Desvalorização.

- As Relações Objetais Internalizadas são Patológicas, dividem os outros em pólos extremos (ou são deuses ou são demônios).
Estes indivíduos não conseguem integrar Aspectos Libidinais e Agressivos dos outros, o que inibe sua capacidade de apreciar corretamente as experiências externas das outras pessoas.
O conceito de Kernberg de Organização de Personalidades Borderlines é Distinto das Características Fenomenológicas que identificam um Transtorno de Personalidade Específico.

No seu ponto de vista, os pacientes com Transtornos de Personalidade Narcisista, Anti-social, Esquizóide, Paranóide, Infantil e Ciclotímica, por exemplo, caracterizam-se por uma Organização de Personalidade Borderline subjacente.
Já para Meissner (1984/1988) que categorizou as Condições Borderlines de forma diferente que Grinker e colaboradores, mas ele também acreditava que a Limitação do uso do Termo Borderline a um Transtorno de Personalidade Específico, era um erro. Ele observou que havia Claros Agrupamentos Descritivos no Espectro, Especificamente um CONTINUUM HISTÉRICO e um CONTINUUM ESQUIZÓIDE.

Para Adler (1981) e Rinsley (1985) que também consideraram que as Condições Borderline incluem um CONTINUUM, no qual, a Essência do Paciente Borderline descrito pelo DSM-IV, Representa o Extremo Inferior, e o Paciente com Transtorno de Personalidade Narcisista Representa o Extremo Superior.

Nas características clínicas:

O Traço Essencial do Transtorno de Personalidade Borderline é uma Extraordinária Instabilidade nos Relacionamentos Interpessoais, na Auto-imagem e no Afeto. Bem como, uma Acentuada Impulsividade que Começa no Início da Idade Adulta e que se faz Presente numa Variedade de Contextos.
A Instabilidade Afetiva é um Aspecto Chave do Tipo de Personalidade Borderline, caracterizada como Mudanças Rápidas e Exageradas no Humor em resposta a Estímulos Ambientais Emocionalmente Carregados, tais como Críticas; Separações de Pessoas Significativas ou Frustração.
O Humor é Acentuadamente Reativo com Intensos Episódios de Disforia, Irritabilidade ou Ansiedade; usualmente, durando umas poucas horas e raramente, durando mais do que alguns dias.
Grave Comprometimento da Capacidade para Fazer Ligações Afetivas (Padrão Comportamental previsivelmente mal-adaptado, relacionado às Separações, que para ele, significa abandono e rejeição).

As Intensas Relações dos Pacientes Borderlines podem ser divididas em duas fases:

1a Fase: Há uma Grande Valorização da Outra Pessoa que é vista de modo extremamente positivo e idealizado (a pessoa escolhida é tratada como um Deus).
2a Fase: Ao Menor Deslize da Pessoa Idealizada, ocorre um Movimento Inverso; essa mesma pessoa passa a ser vista como o próprio demônio (somente por um prisma negativo e desvalorizado).

Geralmente, o que leva à passagem da Fase de Idealização Extrema para a Fase do Ódio Acentuado é a Perspectiva da Perda da Relação, a Ameaça de abandono é chamada de splitting (cisão).

Kernberg acredita que os Borderlines distinguem-se dos Neuróticos pela Presença de Defesas Primitivas, como o splitting.
Os Pacientes Borderlines apresentam Problemas com a Constância Objetal, eles interpretam cada ação das pessoas em suas vidas como se essas ações não tivessem contextos anteriores; eles não têm um senso de continuidade e consistência sobre as pessoas e coisas de suas vidas.

Portanto, estes pacientes parecem não ter memória, vivendo de modo estanque, num Eterno “Aqui e Agora”.
Episódios Psicóticos são comuns em pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline. Podem ser de curta duração (Episódios Micropsicóticos) ou mesmo Quadros Psicóticos que duram várias semanas. Ameaças, Gestos, Comportamento Automutilador ou Comportamento Suicida Recorrente, são freqüentes.

Temos como Prognóstico, o padrão de curso mais comum, o de Instabilidade Crônica no início da idade adulta, com Graves Episódios de Impulsividade e Descontrole Afetivo, Associado à Elevada Utilização de Serviços de Saúde Gerais e Psiquiátricos.

O Transtorno de Personalidade Borderline Melhora com o Passar dos Anos, o Risco de Suicídio Diminui e há Maior Estabilidade nos Relacionamentos Afetivos e no Trabalho.

Apesar da ocorrência de episódios psicóticos em cerca de um terço desses pacientes, estudos longitudinais não mostram uma progressão para a esquizofrenia. Esses episódios psicóticos parecem estar mais ligados a mecanismos dissociativos.
As estatísticas apontam: que 3 a 10% dos Pacientes Borderlines, cometem suicídio.

Os Pacientes com Tipo de Personalidade Borderlines “aderem pouco aos tratamentos”. Por serem Pacientes Impulsivos, Irresponsáveis, com Alto Grau de Negação da Doença, apresentando também Negativismo e Grandiosidade.

Tratamentos específicos dos sintomas-alvo:
- Sintomas psicóticos;
- Raiva/Agressividade/Impulsividade;

- Sintomas e/ou Síndrome Depressiva, vários autores consideram que a Depressão do Paciente Borderline é DIFERENTE da Depressão vista em pacientes com Depressão Primária “PURA” (sem Comorbidades); bem como, das Depressões observadas em Pacientes com Outros Diagnósticos (DEPRESSÕES SECUNDÁRIAS OU ASSOCIADAS).

  
Cinco etapas do desenvolvimento normal:

 A primeira etapa, pela qual transcorrem as relações de objeto, é a de “autismo normal ou período indiferenciado primário”. Ela ocorre durante o primeiro mês de vida, etapa em que ainda não se consegue constituir uma constelação si-próprio-objeto suficientemente estável.
A segunda etapa, chamada de “simbiose normal, ou período de representações primarias indiferenciadas si-próprio-objeto”, transcorre entre o segundo e o sexto mês de vida. Neste período, alcança-se a consolidação da imagem si-próprio-objeto em um todo.
A terceira etapa tem como objetivo estabelecer a diferença entra as representações do si-próprio e as objetais. Nesta etapa, o mecanismo predominante é a clivagem, sendo as relações objetais estabelecidas como parciais (inteiramente bons ou completamente maus).
Na quarta etapa há a substituição dos mecanismos de defesa arcaicos (clivagem e identificação projetiva) por outras defesas menos primitivas, em especial o recalcamento. Ao finalizar esta etapa, o sujeito conta com uma estrutura psíquica tripartite, constituída pelo ego, id e o superego, e a percepção dos objetos como “objetos totais” lhe permite sentir culpa e depressão.
A quinta e última etapa tem como meta a consolidação da integração do superego e do ego. Neste período, ocorre a diminuição das tensões entre ambas instâncias, o que permite que o sujeito responda, com maturidade, às exigências da vida, aos fracassos e aos conflitos.


Referências:
BLEICHMAR, N; BLEICHMAR, C. A psicanálise depois de Freud: Teoria e clínica. Porto Alegre: Artmed, 1992.

Vínculo Materno-Infantil E Participação Da Mãe Durante A Realização Da Punção Venosa: A Ótica Da Psicanálise
Júlia Peres Pinto
Vera Lúcia Barbosa
disponível em:




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